06/08/2025 - Centrais apresentam propostas para enfrentar tarifas dos EUA
 
As principais centrais sindicais do Brasil apresentaram uma série de propostas para mitigar os efeitos da guerra comercial desencadeada pelo governo de Donald Trump.
 

Em documento divulgado nesta terça-feira (15), as principais centrais sindicais do Brasil apresentaram uma série de propostas para mitigar os efeitos da guerra comercial desencadeada pelo governo de Donald Trump, que anunciou tarifas de 50% para todos os produtos brasileiros que entrarem nos Estados Unidos a partir de 1º de agosto. O texto, assinado pelos presidentes das entidades, alerta para os riscos à economia nacional, como a desindustrialização, a desorganização de cadeias produtivas e a ameaça a milhares de empregos.
O documento defende um “projeto de desenvolvimento com inclusão e justiça social”, baseado na geração de empregos, no combate à precarização e no fortalecimento do poder de consumo das famílias. “É hora de fortalecer e aprimorar um modelo que reduza nossas vulnerabilidades e enfrente a concorrência predatória”, afirma o texto, que também expressa apoio às ações do governo federal e de outras instituições nacionais no enfrentamento da crise.
Entre as principais medidas sugeridas está a defesa da produção nacional, com propostas como o fortalecimento de medidas antidumping, o estímulo a compras públicas com conteúdo local e o aumento de investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica. O documento também cita a necessidade de revisão da Lei de Patentes e o desenvolvimento de capacidades em áreas estratégicas, como semicondutores e inteligência artificial.
Na área trabalhista, as centrais propõem a proteção do emprego e da renda, com a recriação de programas de qualificação profissional e mecanismos de transição para trabalhadores afetados pela concorrência internacional. Além disso, defendem a ampliação da negociação coletiva, apontando a necessidade de “fortalecer a organização sindical para garantir a negociação coletiva sempre que houver mudanças estruturais nos setores atingidos pela concorrência externa”.
O texto também destaca a importância do diálogo social tripartite, sugerindo a criação de espaços permanentes de discussão entre governo, empresários e trabalhadores para a formulação de políticas industriais, comerciais e tecnológicas. Outro eixo destacado é a transição ecológica justa, com medidas para garantir que a descarbonização da economia seja acompanhada de geração de empregos verdes e estímulo à bioeconomia.
No plano externo, as centrais defendem uma nova estratégia comercial externa, incluindo a revisão de acordos internacionais, o fortalecimento do Mercosul e a busca por novos mercados. “Concebemos o diálogo social como um instrumento estratégico e expressão de soberania”, afirma o documento, que conclui com um chamado para a reconstrução de uma base produtiva moderna, capaz de gerar empregos de qualidade e garantir dignidade aos trabalhadores.
DOCUMENTO
Nós, das centrais sindicais brasileiras, representantes de trabalhadoras e trabalhadores de diversos setores da economia, repudiamos o “tarifaço” de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciado pelo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump.
Essa medida intempestiva, que remete à memória sombria da participação dos EUA no golpe 1964, não passa de uma reação hostil às decisões do Supremo Tribunal Federal envolvendo empresas estadunidenses que atuam no Brasil. Trata-se, ainda, de um conluio com o bolsonarismo, que insiste em alimentar polarizações e estimular grupos de extrema-direita a traírem os interesses nacionais.
Alertamos para os impactos devastadores que a sobretaxa pode causar à economia e à classe trabalhadora. Um aumento abrupto de 50% nas tarifas sobre nossas exportações — vindas de um país com o qual mantemos mais de 200 anos de relações comerciais — ameaça diretamente a indústria, o agronegócio e diversos setores produtivos, com risco real de demissões em massa, fechamento de empresas e agravamento do desemprego. A medida também tende a encarecer o custo da produção, pressionando a inflação e elevando o custo de vida. Há ainda o risco de instabilidade cambial.
Diante desse ataque à nossa soberania, apoiamos a resposta firme e altiva do governo federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e saudamos a recente aprovação da Lei da Reciprocidade Econômica. O governo deve utilizar todos os instrumentos legais para proteger nossa economia e o povo brasileiro.
É também necessário exigir a cassação do mandato do deputado federal Eduardo Bolsonaro que, mesmo abrigado no exterior e recebendo salários pagos pela população brasileira, agiu como um verdadeiro agente estrangeiro ao fomentar sanções contra o próprio país. Isso configura crime de lesa-pátria.
Ao mesmo tempo, defendemos que o Brasil preserve e fortaleça suas relações internacionais, buscando uma solução pacífica, multilateral e justa. Confiamos que o governo saberá equilibrar firmeza e diplomacia para impedir a escalada de uma crise provocada pelo autoritarismo de Donald Trump.
Reafirmamos, por fim, nosso compromisso inegociável com a soberania nacional, com a legitimidade das instituições democráticas e com os direitos da classe trabalhadora. O Brasil é dos brasileiros — e somente ao povo, por meio de suas instituições, cabe decidir os rumos do país.
Pela soberania nacional, pela democracia e pelo emprego!
São Paulo, 10 de julho de 2025
Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
Miguel Torres, presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)
Moacyr Tesch Auersvald, presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)
Nilza Pereira de Almeida, secretária geral da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
José Gozze, presidente da Pública, Central do Servidor